domingo, 22 de maio de 2016

Doce Maria




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Organização Carla Cirilo
  
“Eis aí a tua Mãe.” -  João 19,27
 
O projeto Doce Maria, nasceu de uma troca de ideias entre educadores e voluntárias tendo em mente uma intervenção socioeducativa, na busca de  atividades intencionais de intervenção e ajuda pedagógica para o desenvolvimento cognitivo das crianças. O projeto teve duração de três semanas, levando em consideração a data do Dia das Mães. 
  
  
“A família é um grande projeto de trabalho que precisa ser valorizado. É nela que temos a base para enfrentarmos os acontecimentos da vida. Para nossas crianças e adolescentes que estão “ausentes” de suas famílias, nosso trabalho vai além de oferecer moradia, cuidados e proteção. Para crianças e adolescentes (0-17 anos) em situação de risco pessoal, social e de abandono, acreditamos na “família” como “um projeto de Deus” que precisa ser valorizado e “a mãe” é a pessoa que unifica, edifica esta “família” e nossos meninos e meninas não tem neste momento esta presença, portanto queríamos mostrar a importância da “mulher” que eles identificam neste espaço, que trabalham com eles, que cuidam deles... mas, para a tal realização foi necessário respeitar os limites das nossas crianças e adolescentes, buscando entender os sentimentos e ajudá-los a superá-los por não ter o convívio da mãe.” - Alexandre M.da Silva, Coordenador Pedagógico.

O projeto foi voltado à mulher , à doçura de Maria, mãe de Jesus. Valorizamos a figura da mulher , destacando suas qualidades e justificando suas falhas, estimulando a afetividade, promovendo laços afetivos entre as crianças e adolescentes e as mulheres da Casa Naim: mãe, professora, educadora, missionária da Aliança da Misericórdia e voluntárias.

"A etapa que participei foi a de fazer os cartazes com as crianças. A sala já estava pronta, preparada para receber as crianças, e isto ajudou muito. As crianças estão sempre agitadas, sempre buscando algo, e quando já está tudo organizado fica muito mais fácil. Funciona como um certo encantamento, não dura muito mas ajuda a começar. O professor explicou como seria, distribuímos o material lúdico para eles usarem, e assim fomos montando. Eles adoram fazer trabalhos manuais, e pedem muito a nossa ajuda, e sempre perguntam se está bom, e o que nós faríamos se estivéssemos no lugar deles. Tento sempre nestes momentos, dizer que eles são capazes, e que eles podem escolher. E assim foi saindo...
Eles gostam muito e diria até que tem uma necessidade de ver o que os outros estão fazendo, dificilmente elogiam o trabalho do outro, mas também não criticaram, o que acontece muitas vezes. Nosso papel era ir falando, sobre a mulher, seus pontos positivos, o que uma Mulher gosta de fazer, de como ela deve ser tratada, e assim eles iam recortando as fotos das revistas. 
O professor colocou uma música de fundo,eles não prestam muito atenção, mas um ou outro comenta. O resultado foi muito legal,e depois fomos todos juntos para que eles fizessem a apresentação do cartaz. Cada um falou um pouco, houve interesse em ouvir o outro, mas com a sala agitada, tivemos que intervir algumas vezes e voltar ao foco.
Tentei colaborar da melhor forma possível, estando próxima às crianças, incentivando, acalmando, olhando nos olhos, tocando com amor, com o cuidado que nós mulheres fazemos em sua maioria.” – Heloísa Costa, Voluntária.

“Nossas crianças e adolescentes produziram cartazes " da mulher ideal" e na oficina de artes  traçaram "os defeitos e experiências" da "mulher" que eles tem em suas mentes: "a que abandonou"; "que não cuidou" e depois potencializaram a identificação com a mulher "que cuida";"que reza"; que "educa", identificando-as através das mulheres que vivem com eles e com elas: voluntárias, educadoras, professoras, missionárias....
Os resultados foram surpreendentes:  crianças mais produtivas e entrosamento entre eles.”  - Alexandre M.da Silva, Coordenador Pedagógico.

A última etapa do projeto , foi a confecção de  potes de vidros decorados, na aula de artes, e a produção do doce de geleia de banana,  atividade realizada pelas crianças na cozinha. As atividades foram desenvolvidas num ambiente de conversa tendo o foco no tema “DOCE MARIA” e as crianças participaram ativamente. 

"Próxima a gruta de Nossa Senhora, colocamos uma mesa com toalha branca e as Marias foram chegando...e escolhendo os seus potes, lindamente desenhados com corações, caveiras e flores...conforme o desejo que cada um teve de expressar a sua arte. Intrigante foi que a única tinta que tínhamos disponível e que aderia ao vidro, era o esmalte de unhas que recebemos de doação de um salão de beleza. Deus enviou aquela providência, que não sabíamos como usar...e nos fez lembrar que toda MARIA tem um colorido nas mãos." - Debora Feder, Pedagoga Voluntária.

Para a conclusão do projeto,  as crianças presentearam as mulheres atuantes da Casa Naim com o pote com a geleia de banana o "Doce Maria".

“Um de nossos garotos, de 9 anos, que não tem referência feminina, pois estava há muito tempo somente com o pai, negligenciado e  emocionalmente desorganizado, teve muita dificuldade de encontrar uma Doce Maria na Casa Naim. Insistia em desenhar uma figura masculina como referência feminina. Impulsivamente não acatou a proposta de presentear uma mulher, insistindo desesperadamente, argumentando e convencendo-me de que poderia esconder de todos o pote de doce para um dia entregar ao pai. Assim foi feito um pacto entre nós...que logo foi descoberto por todas as outras crianças...e ao ser questionada por elas, somente silenciei...e no meu olhar todos compreenderam que por compaixão tinha cedido...e que eu era a Doce Maria daquele menino.” - Debora Feder, Pedagoga Voluntária.

Toda a instrumentalização do projeto baseou-se  no processo de "construção", "desconstrução" e "fortalecimento". 

“Para  nós do Oratório da casa Naim, Construir é se apropriar de valores humanos, construir é tornar concreto estes valores no cotidiano. Desconstruir  é romper com estruturas impostas ou assimiladas num  espírito punitivo e segregação social. Potencializar é ampliar o acesso já construído dando  oportunidades para os valores já assimilados, possibilitando o exercício da cidadania.” - Alexandre M.da Silva, Coordenador Pedagógico. 

Este foi o primeiro projeto viabilizado no Núcleo Educacional São Felipe Neri direcionado para o perfil das crianças do Serviço de Acolhimento Institucional Casa Naim SP, Aliança de Misericórdia ( Acesse ). 

“Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho. “ - Carlos Drumond  de Andrade.



Referências:  

Documento pedagógico do projeto Doce Maria - Alexandre M.da Silva, Coordenador Pedagógico.
Relatório das atividades do projeto Doce Maria - Alexandre M.da Silva, Coordenador Pedagógico.
Desenhos feitos pelas crianças, orientadas por Renato Jagle Zveibi, Professor Voluntário



Contatos: azulaborboletaazul@gmail.com